Em surto de estelionato, Estado enfrenta variantes com vigaristas se passando por promotores e delegados para fazer vítimas
Reportagem: Silvio Milani
O uso do nome do procurador-universal de Justiça do Rio Grande do Sul, Fabiano Dallazen, para impor golpe em taxista de Dois Irmãos, há dois meses, causou inquietação no Ministério Público. Criminosos já tinham se pretérito por outros promotores de Justiça e continuam com a estratégia, mais recentemente para lesar prefeituras. Na quarta-feira, a instituição divulgou nota de alerta, mas afirma não ter levantamento sobre quantos servidores foram alvos. Dallazen não quis se manifestar.
Os estelionatários também ousam contra a Polícia Social. Já assumiram a identidade de 36 delegados gaúchos, entre eles pelo menos dois do Vale do Sinos, e enganaram centenas de pessoas de vários Estados, desde compras on-line até o constrangedor “golpe do nudes”.
Há ainda uso de nomes de defensores públicos e de conhecidos advogados. O crescente envolvimento de autoridades, que também acabam se tornando vítimas, dá o tom da voracidade dos vigaristas em meio a uma imensidão de repertório de golpes, que crescem vertiginosamente desde o ano pretérito.
Moto comprada por golpistas em nome de delegado foi recuperada pelo próprio policial em abril do ano passado
Foto: Polícia Civil
Na tarde de 5 de fevereiro, o taxista de 29 anos recebeu telefonema de um varão que se apresentava porquê “Dr. Fabiano Dallazen, promotor de Justiça”. Era proposta para sossegar a crise agravada pela pandemia. “Falava muito muito, porquê um doutor. Disse que precisava de motorista para três dias corridos cá em Dois Irmãos. Explicou que viria a trabalho em locais porquê fórum, prefeitura. Me ofereceu 500 reais a diária e o dispêndio de combustível”, recorda o taxista, que pede anonimato.
Aceitou na hora. “Toda vida. Não tinha porquê recusar nessa era de pouco serviço. Daí ele pediu meus dados bancários, foto da CNH e foto do documento do carruagem. Porquê eu estava dirigindo, disse pra ele enviar WhatsApp.” Porém, quando viu o prefixo 62, de Goiás, surgiu a suspeita. O taxista foi pesquisar na Internet. “Eu nunca tinha ouvido falar desse promotor, mas a foto e nome eram mesmo dele. Só que estranhei por ser de Porto Feliz. Não fechava com o DDD.”
Não caiu
O motorista foi se inculcar com um policial. “Ele disse pra não passar zero, porque era golpe. Usariam meus dados pra todo tipo de delito.” Sem vaidade, o taxista informou ao cliente que estava inapto de fazer o serviço. “Depois de muito martelar, ele disse que, se eu não podia, ia pegar outro.”
AUXÍLIO EMERGENCIAL
Por meio de uma mensagem, o golpista ilude a pessoa afirmando que ela se enquadra no perfil para receber ajuda financeira do governo, no valor que varia entre 600 reais e R$ 1,2 milénio. Para ter aproximação ao moeda, bastaria fazer um cadastro por meio do link informado na mensagem. Aí que está a emboscada! Nesse link, a vítima deve informar dados pessoais, porquê CPF, endereço, número da conta bancária e senha. O problema é que, a partir dessas informações, o cibercriminoso efetua diversos golpes, porquê penetrar contas em bancos virtuais e solicitar cartões de crédito; ou terebrar uma empresa fantasma em nome da vítima.
Dica: Sempre desconfie de links enviados por WhatsApp, ainda mais quando estiverem associados a mensagens imediatistas, porquê “aproximação somente nas próximas horas”, “último dia para o saque”, “o favor se encerra hoje”. Órgãos do governo federalista não solicitam dados pessoais por meio de mensagens.
COMPRAS ON-LINE
A vítima faz um pregão em qualquer site de compras on-line, expondo seu número de telefone para contato. O golpista, por mensagem ou relação telefônica, engana a vítima dizendo que há a premência de atualização da conta/cadastro no site ou verificação do pregão. Para validar a “atualização” ou “confirmação” do pregão, o golpista solicita que a vítima informe os seis dígitos numéricos que ela receberá via SMS em seu celular. No entanto, estes números são, na verdade, o código de validação da conta do WhatsApp.
Dica: Habilite a dupla verificação em seu WhatsApp. Não repasse códigos recebidos via SMS sem antes verificar a verdade da solicitação feita pelo interlocutor.
FALSO SITE DE INTERNET
Bandidos criam sites falsos de venda de mercadoria (eletrônicos, eletrodomésticos, etc), com layout de sites conhecidos. O golpe costuma ter maior incidência em datas comemorativas e promocionais.
Dica: Observe com desvelo todo o endereço eletrônico. Pesquise a reputação da empresa. Desconfie de objetos à venda por preço muito aquém daquele praticado no mercado.
DEPÓSITO COM ENVELOPE VAZIO
Geralmente a vítima fez pregão para venda de objeto em sites de compras ou por redes sociais. Depois a negociação, o golpista faz o repositório do valor acordado em um caixa eletrônico ou lotérica, mas não coloca numerário no envelope. Ele encaminha foto do comprovante de repositório e a vítima confirma o recebimento em consulta à sua conta pelo aplicativo do banco. E a vítima entrega o muito, normalmente para motorista de aplicativo chamado pelo vigarista.
Dica: Em negociação pela Internet, aguarde sempre a indemnização do repositório bancário. É bom esperar o próximo dia útil para que haja a confirmação da ingressão do moeda na conta.
CLONAGEM DO WHATSAPP
Os golpistas têm diversos meios de conseguir o número da vítima, mas o mais usual é que seja retirado de anúncios em plataformas de sites de compras ou anúncios públicos em redes sociais. As vítimas recebem um torpedo de SMS no qual consta um código de 6 dígitos. O golpista se passa por funcionário da plataforma de pregão e solicita nascente código, alegando que isso é necessário para ativar o pregão. Esse código é a forma do criminoso desviar o WhatsApp da vítima, que perde o entrada. para o celular dele. Daí começa a pedir moeda, em forma de ajuda, socorro, ou empréstimo, para amigos e familiares da vítima.
Dica: Não enviar para qualquer pessoa o código de 6 números que chegar por torpedo SMS.
BILHETE PREMIADO
A vítima é abordada por uma pessoa que pede informação e logo aparece outra da quadrilha, se passando por ignoto que se oferece para ajudar. Esse segundo golpista olha o papel com que o primeiro pede ajuda e, com ar surpreso, diz que se trata de bilhete premiado da loteria. O idoso é convicto a dar moeda porquê garantia para poder receber recompensa milionária. Logo que a vítima dá o numerário, os golpistas dão um jeito de despistá-la e vão embora.
Dica: Não existe lucro de numerário fácil, ainda mais em abordagens na rua por desconhecidos. Caso alguém peça ajuda em situação semelhante, diga que não pode e procure uma Delegacia de Polícia mais próxima para informar o indumento.
FALSO SEQUESTRO
O golpista liga de maneira aleatória para diversos números. Geralmente ele está recluso e tem tempo de sobra. A vítima atende e o bandido grita no fundo, porquê se fosse uma pessoa “sequestrada”. Desesperada, a vítima acaba fazendo transferência bancária porquê resgate em conta de “laranja”.
Dica: Desligue o telefone e faça contato com o suposto familiar que teria sido sequestrado. Caso tenha receio de desligar, acreditando ser verdadeiro o veste, peça para alguém próximo (um familiar ou vizinho) que faça contato com a suposta vítima do sequestro para saber se está tudo muito.
TROCA DE FOTOS ÍNTIMAS
No chamado “golpe do nudes”, o criminoso usa perfil falso nas redes sociais, muitas vezes com foto de jovem sedutor, e começa amizades. Envia fotos íntimas e pede para que a vítima faça o mesmo. Assim começa a roubo. Para que o caso não vá para a Polícia, ou tudo seja descrito para esposa ou marido, é exigido numerário. Algumas vezes, os golpistas se passam por policiais civis, alegando que as fotos já fazem secção de um interrogatório e exigem para que “a investigação seja arquivada”.
Dica: Não troque, nem compartilhe fotos íntimas pela Internet. E lembre-se: Pedofilia é transgressão. Se a pessoa aparenta ser menor de idade, todo o desvelo é necessário.
CARTÃO AMBULANTE
As pessoas compram um jogo de panelas, por exemplo. Na hora de passar o cartão, o ambulante afirma que a Internet está ruim, e o débito ou crédito não passou. Que a operação terá que ser refeita. Quando a vítima vai olhar o extrato, percebe que houve vários saques.
Dica: Evitar esse tipo de compra com cartão e sempre confira na máquina a operação e o valor digitado.
LEILÃO DE VEÍCULOS
É uma variação do golpe do falso site da internet. A vítima entra em site de leilão de veículos, normalmente de São Paulo. Escolhe o coche e deposita o valor numa conta informada. O site é muito estruturado, mas esconde o golpe.
Dica: sempre reconhecer a autenticidade de sites de compras, mormente no caso de valores elevados.
GOLPE DO BOLETO FALSO
Por falsa página de loja ou falso contato pelo WhatsApp, a vítima recebe boleto bancário e paga para conta de “laranja”. Outra modalidade é quando a pessoa recebe mensalmente boletos na sua caixa postal para pagamento de parcelas de financiamento de veículo, por exemplo. Os golpistas retiram os originais e colocam um boleto semelhante na caixa postal, com a diferença que o valor pago irá para a conta dos golpistas.
Dica: sempre conferir a originalidade dos boletos recebidos pelo correio.
PIRÂMIDE FINANCEIRA
Ofertas de investimentos com rendimentos fora do generalidade, na fita de até 3% ao dia, são isca dos golpistas para pirâmides financeiras, grupos de ajuda mútua e afins.
Dica: Não acredite em moeda fácil. Verifique a idoneidade do negócio oferecido.
A nota do Ministério Público alerta sobre golpe contra prefeituras por meio do WhatsApp. “Há registro de pessoas entrando em contato com as gestões municipais, identificando-se porquê promotores de Justiça e solicitando vantagens, porquê repasse de recursos financeiros ou uso de veículos oficiais”, diz o expedido.
O MP não entra em detalhes. À reportagem, a instituição frisa que o posicionamento é somente pela nota e que ela não é do procurador-universal, e sim em nome de todos os promotores. Há investigações sobre prefeituras que teriam sofrido prejuízos superiores a R$ 500 milénio.
Com o nome usado para compras fraudulentas, o mandatário de Estância Velha, Rafael Sauthier, foi detrás e conseguiu prender um par de golpistas em Caxias do Sul. O flagrante aconteceu quando o varão de 32 e a mulher de 31 anos recebiam a moto de uma vítima de Taquara, na tarde de 12 de abril do ano pretérito. Apesar dos vários antecedentes por estelionato, a dupla foi
solta dois dias depois pelo Judiciário.
A dupla já tinha feito pelo menos 30 vítimas passando-se pelo procurador. No flagrante, além da moto, foram apreendidos R$ 100 milénio em objetos adquiridos por meio de golpes. “Ao saber que meu nome estava sendo utilizado para o cometimento de delitos, porquê golpes na Internet, fiquei muito chateado. Me senti responsável em tentar frear estes crimes e acabei tendo sorte em prender em flagrantes duas pessoas”, comenta Sauthier.
O promotor de Novidade Petrópolis, Charles Martins, não teve o nome usado para “carteiraço” de estelionatários. Ele próprio caiu no golpe da atualização de dados do cartão bancário, em outubro do ano pretérito, em caixa eletrônico em Ivoti. Martins ficou intrigado que, mesmo sem passar senha ou dados pessoais, bandidos invadiram a conta dele e pagaram R$ 27,4 milénio em boletos. O promotor tenta restabelecer o quantia na Justiça.